QSP
Informe Reservado

Nº 14 - Abril/2003

Seis Sigma

AS 20 LIÇÕES MAIS IMPORTANTES SOBRE O SEIS SIGMA

Gerald J. Hahn
Aposentado
General Electric

Quando Jack Welch trouxe o Seis Sigma para a General Electric (GE) em 1995, disse com orgulho que usaria como base as experiências bem-sucedidas de outras organizações, tais como a Motorola e a AlliedSignal (atual Honeywell).

Desde então, empresas que buscam inovações têm implantado ou melhorado a estratégia Seis Sigma, adaptando as melhores práticas da GE e de outras organizações. Seguindo a mesma tendência, aqueles que desejam, hoje, tornar o Seis Sigma realidade podem aprender com as experiências acumuladas de seus predecessores.

Quais as 20 lições mais importantes aprendidas sobre o Seis Sigma nos últimos 16 anos, desde a sua implantação na Motorola, e nos 7 anos desde que foi adotado pela GE? Minha lista se baseia em muita coisa que já foi dita nesta e em outras publicações, tendo também a influência das minhas próprias experiências, adquiridas ao longo de uma carreira de 46 anos na GE.

Essa lista, evidentemente, consiste na avaliação de uma única pessoa, sendo que existem também outras perspectivas recentes. Qualquer lista de lições aprendidas sobre o Seis Sigma constitui-se em um trabalho inacabado, que evoluirá enquanto continuamos aprendendo.

Embora muito do que irei dizer tenha a aprovação da maioria dos usuários do Seis Sigma, parece que algumas das minhas idéias ainda não foram discutidas anteriormente. Provavelmente, algumas delas causarão polêmica, mas todo comentário será bem-vindo.

As lições mais importantes estão listadas abaixo numa seqüência lógica, que não pretende refletir uma ordem de importância.

LIÇÕES
1. A Hora é Agora
2. O Comprometimento Entusiasmado da Alta Direção é Essencial
3. Desenvolver uma Infra-Estrutura
4. Escolher as Pessoas-Chaves
5. Investir em Treinamento Apropriado
6. Selecionar Projetos Iniciais Visando a Rápida Credibilidade
7. Disseminar o Seis Sigma e Envolver a Todos
8. Enfatizar o DFSS
9. Não Esquecer do Projeto de Confiabilidade
10. Focalizar Todo o Sistema
11. Enfatizar as CTQs do Cliente
12. Incluir a Melhoria da Qualidade Administrativa
13. Identificar Todas as Economias
14. Personalizar os Métodos de Acordo com as Necessidades da Empresa
15. Considerar a Variação e a Média
16. Planejar-se para Obter os Dados Corretos
17. Tomar Cuidado com o Dogmatismo
18. Evitar Burocracia Desnecessária
19. Manter a Caixa de Ferramentas Básicas
20. Esperar que o Seis Sigma se Torne um Parceiro Mais Discreto

 

1. A Hora é Agora

O Seis Sigma faz sentido. A maioria dos leitores do QSPNews consideram essa afirmação óbvia. Mesmo assim, ela merece ser repetida.

Uma das principais diferenças entre o Seis Sigma e outros métodos é a integração de um processo altamente disciplinado (como, por exemplo, o DMAIC) com um outro bastante quantitativo e voltado para os dados. Essa é uma combinação vitoriosa - conforme evidenciado pelos resultados das empresas que já a utilizaram.

Os conceitos implícitos no Seis Sigma sempre fizeram sentido. O que torna o Seis Sigma tão oportuno atualmente é a combinação dos seguintes elementos:

  • Intensas pressões competitivas, incluindo as pressões resultantes da globalização.
  • Maior demanda de produtos de alta qualidade e reconhecimento do custo da má qualidade.
  • Acessibilidade a grandes bancos de dados e nossa capacidade de digerir e analisar dados.


O último item é particularmente importante. No passado, testemunhei outras iniciativas um pouco semelhantes ao Seis Sigma. Embora, no geral, essas iniciativas tivessem um certo êxito, terminavam fracassando por duas razões. Uma delas era a incapacidade de se dominar os dados rapidamente. Isso, porém, mudou radicalmente com a revolução do computador, em âmbito mais geral, e com o aumento da acessibilidade a programas de computador voltados para o usuário, em âmbito mais específico.

2. O Comprometimento Entusiasmado da Alta Direção é Essencial

Isso nos leva à segunda razão de muitas iniciativas terem fracassado no passado. Muitos esforços de melhoria eram promovidos pela direção dos níveis mais baixos, assumindo-se uma abordagem "de baixo para cima" em vez de uma abordagem "de cima para baixo".

É muito improvável que o Seis Sigma tivesse tido êxito na GE sem a firme liderança de Jack Welch (e, atualmente, de Jeff Immelt). Uma aprovação tácita não é suficiente. O que é necessário é um investimento financeiro visível e um sistema que recompense ativamente a implementação e os implementadores eficazes.

Welch exigia que os funcionários fossem "lunáticos" com relação à qualidade e fazia do Seis Sigma um importante critério para o pagamento de incentivos e a promoção. O entusiasmo da direção contagiava todos os funcionários.

Os líderes locais da empresa, chamados de Champions, desempenham um importante papel no sentido de tornar o Seis Sigma realidade. Eles estabelecem o mecanismo, selecionam os Master Black Belts (MBBs), fornecem os recursos necessários, certificam-se de que todos os funcionários estão "ligados" e assumem toda a responsabilidade por uma implementação eficaz e um comprometimento contínuo.

3. Desenvolver uma Infra-Estrutura

O Seis Sigma não pode ser uma atividade extracurricular informal. É necessária uma estrutura formal. O comprometimento da direção inclui estabelecer essa infra-estrutura e dar suporte a ela.

Tal comprometimento consiste em implantar a organização formal, definir objetivos e responsabilidades-chaves, desenvolver um processo de elaboração de orçamento e especificar um processo sólido para a medição de resultados. Esse processo deve estar intimamente integrado com o sistema existente e ser um importante elemento do sistema.

4. Incumbir Pessoas Chaves

Há uma tendência natural de se escolher para o Seis Sigma pessoas que, por acaso, estejam disponíveis, em vez de se escolher aquelas que se ajustam melhor ao trabalho. No entanto, o Seis Sigma valoriza a escolha das pessoas mais capazes para serem MBBs e Black Belts (BBs). Essas pessoas não apenas devem se destacar tecnicamente, como também ser líderes criativos e persuasivos.

Na GE, por exemplo, os MBBs são prováveis candidatos a altas posições de gerência. Além disso, são eximidos de suas atuais atribuições para que, pelo menos inicialmente, possam se dedicar totalmente ao Seis Sigma.

5. Investir em Treinamento Apropriado

Uma vez que a estrutura para a implementação do Seis Sigma esteja em ordem, segue-se a tarefa mais difícil. Começa-se fornecendo aos funcionários o treinamento necessário para uma boa implementação. Eis algumas dicas importantes:

  • Garantir que os instrutores sejam pessoas cultas e comunicadores eminentes.
  • Personalizar o treinamento, principalmente os exemplos, de acordo com as necessidades da empresa específica. Geralmente, isso requer desvios e acréscimos em relação aos materiais desenvolvidos previamente (ver lição 14).
  • Garantir que o vocabulário comum da estratégia Seis Sigma seja empregado - elemento indispensável para facilitar a comunicação.
  • Incorporar o envolvimento do tipo "mão na massa". O tradicional currículo Seis Sigma compõe-se de sessões de cinco dias oferecidas durante duas a quatro semanas alternadas. Os projetos Seis Sigma são conduzidos pelos participantes durante o período intermediário. Para receberem a certificação, os Green Belts (GB) e os BBs têm de concluir satisfatoriamente dois projetos Seis Sigma, sob avaliação de um MBB.
  • Considerar a possibilidade de envolver consultores externos para facilitar a implantação do Seis Sigma. Foi isso que a GE fez ao implantar o processo DMAIC, como auxílio ao DFSS - Design For Six Sigma. Após alguns anos, porém, essa tarefa foi totalmente transferida para pessoas da própria empresa.

6. Selecionar Projetos Iniciais Visando a Rápida Credibilidade

O comprometimento total da direção, uma infra-estrutura apropriada, o envolvimento de pessoas-chaves e o devido treinamento compõem o cenário para o sucesso, resultando em altas expectativas, que devem ser atendidas - e rápido - para se manter a força inicial. Todos os projetos Seis Sigma devem ser selecionados ponderadamente, principalmente no caso dos projetos iniciais, que devem atender aos seguintes critérios:

  • Sua importância deve ser evidente ou facilmente demonstrada.
  • Ser viáveis ou exeqüíveis num curto período de tempo (de preferência menos de três meses).
  • Seu sucesso deve ser facilmente quantificado.

As aplicações iniciais do Seis Sigma têm sido, geralmente, na área de fabricação, à qual se aplica em especial o processo DMAIC. Métricas-chaves de sucesso, como a redução de rejeitos, medida de acordo com a sucata e o retrabalho, no geral, podem ter um rápido impacto na área de fabricação, sendo geralmente bem divulgadas e registradas.

Um bom início, baseado em sucessos aceitos e facilmente comprovados, facilitará o caminho a seguir.

7. Disseminar o Seis Sigma e Envolver a Todos

Uma vez que a credibilidade do Seis Sigma esteja estabelecida, será necessário dar impulso à estratégia. O objetivo deve ser disseminar o Seis Sigma na organização e fora dela. A distinção inicial entre os projetos Seis Sigma e outros projetos deverá desaparecer quando o Seis Sigma se tornar "a nossa forma de trabalho".

Sucessos de curto prazo na área de manufatura geralmente representam apenas a ponta do iceberg. O Seis Sigma deve abranger também vendedores (os produtos devem ser tão bons quanto suas matérias-primas) e clientes.

A disseminação do Seis Sigma se refletirá em muitas das lições posteriores.

8. Enfatizar o DFSS

A qualidade de um produto é basicamente determinada pelo seu projeto. Em geral, o que se pode fazer na fabricação é reacional e limitado. Além disso, o impacto da alta qualidade do projeto vai muito além da melhoria de rendimento, podendo também influenciar grandemente a qualidade experimentada pelos clientes. Por isso, o DFSS se tornou um elemento integrante do Seis Sigma, apresentando ótimos resultados de longo prazo, que podem superar bastante os resultados da área de manufatura.

A importância do DFFS tem sido reconhecida nos treinamentos de pessoas que possam ter alguma influência no projeto. De acordo com o relatório anual de 2000 da GE, sua área de sistemas médicos implantou sozinha, naquele ano, 22 produtos utilizando o DFSS. Dentre esses, os mais importantes foram os patenteados sistemas digitais de raio x Senographe e Innova, considerados revolucionários na detecção de câncer do seio e na cardiologia intervencionista por imagem.

Um importante elemento do DFSS é a consistência do projeto - garantindo o bom desempenho do produto sob ambientes operacionais diversos (dos trópicos ao Ártico), diferentes possibilidades de uso (e mau uso) e alterações sutis nas condições de produção (tais como a variação de matérias-primas).

9. Não Esquecer do Projeto de Confiabilidade

A qualidade do projeto possui elementos de curto e longo prazo. A qualidade de curto prazo é representada pela satisfação do cliente com uma entrega pontual e pela sua experiência inicial com o produto; porém, a maioria dos produtos (por exemplo, automóveis, máquinas de lavar, locomotivas e motores de aviões) estão relacionados com um longo processo.

No caso desses produtos, a qualidade é representada pela alta confiabilidade (operação sem problemas) existente durante muitos anos. Na hora de substituir um produto, tal desempenho de longo prazo se torna bastante vivo na mente dos clientes.

Assim sendo, uma importante meta da estratégia Seis Sigma é projetar produtos de longa vida e alta confiabilidade. Métodos para melhorar a confiabilidade devem ser parte integrante do conjunto de ferramentas Seis Sigma, para engenheiros de projetos e produtos.

10. Focalizar Todo o Sistema

Uma importante parte na disseminação do Seis Sigma seria focalizar todo o sistema. Os projetos iniciais Seis Sigma tradicionalmente abordavam características individuais críticas para a qualidade (CTQ), tais como a eliminação ou a drástica redução do índice de ocorrência de um defeito específico.

Quando atacamos inflexivelmente determinada CTQ, damos pouca atenção às outras CTQs. Em muitos casos, como, por exemplo, os que abordam a remoção de defeitos, os projetos para melhorar uma CTQ servirão também para melhorar outras CTQs; porém, isso não ocorre necessariamente assim.

Uma forma de se diminuir o índice de rejeição seria ampliar as especificações do produto. Isso poderia causar um impacto destrutivo sobre as outras CTQs - como, por exemplo, a confiabilidade do produto em determinada área.

Como, em geral, as CTQs estão intimamente relacionadas, deve-se avaliar o impacto e o custo associado de quaisquer ações sobre todas as CTQs importantes. Devemos focalizar a melhoria de todo o sistema, e não a melhoria de uma CTQ individualmente.

11. Enfatizar as CTQs do Cliente

O sucesso inicial da GE abrangeu principalmente melhorias internas que produziram um impacto significativo no resultado financeiro. Muitos clientes, porém, sentiram-se deixados de lado. No relatório anual de 1998, Jack Welch mencionou que seus clientes costumavam perguntar quando iriam ver os benefícios do Seis Sigma.

Essa pergunta levou a GE a introduzir em seus conceitos o elemento externo, tendo como alvo as CTQs voltadas para o cliente, tais como tempo de entrega, tempo de resposta a perguntas e satisfação geral do cliente.

Esses conceitos foram recentemente ampliados pela GE através da iniciativa ACFC (at the customer, for the customer). Seu objetivo é treinar clientes em Seis Sigma e ajudá-los no processo inicial, inclusive orientando-os em projetos específicos.

Curiosamente, os relatórios anuais da GE de 1996 a 1999 quantificaram principalmente as economias internas resultantes do Seis Sigma (por exemplo, $2 bilhões em 1999). Em contraste, o relatório anual de 2000 enfatizou as economias para o cliente.

Por exemplo, a GE ajudou algumas linhas aéreas a realizar mais de 1.200 projetos Seis Sigma, totalizando mais de $300 milhões em economias. A empresa também gerou mais de $100 milhões em benefícios para clientes de sistemas médicos, servindo como catalisador para 1.000 projetos Seis Sigma, destinados a aumentar o número de pacientes e reduzir a variação na prestação de assistência médica.

12. Incluir a Melhoria da Qualidade Administrativa

A ampliação do Seis Sigma para abranger a qualidade administrativa (transacional) quase coincidiu com a iniciativa da GE de abordar as CTQs dos clientes. Aplicações bem-sucedidas incluíam a aquisição e gestão de portfólio, determinação de preços, estratégias de marketing e cobrança. Mais uma vez, enfatizou-se o projeto desses processos (DFSS para a qualidade administrativa), bem como a melhoria dos processos existentes.

Rapidamente tornou-se evidente que esses conceitos proporcionavam ótimos resultados para as operações administrativas de apoio e para os clientes, igualando-se àqueles provenientes do projeto e da melhoria do produto.

13. Identificar Todas as Economias

Um importante elemento do Seis Sigma consiste em quantificar economias de quantidades complexas. A relativa facilidade e rapidez com que as economias em dinheiro são quantificadas é, como já foi sugerido, o motivo de muitas empresas concentrarem os projetos Seis Sigma iniciais na área de manufatura.

Mas eis a questão: Como poderíamos disseminar o Seis Sigma e torná-lo voltado para os sistemas e sensível às necessidades dos clientes, se não conseguimos identificar facilmente a situação financeira dos ganhos resultantes? Mais especificamente, como poderíamos quantificar as vendas resultantes de se ter um bom conceito na praça e de recomendações de clientes, obtidas com o DFSS e a melhoria da qualidade administrativa?

Mais difícil ainda, como poderíamos identificar devidamente as economias resultantes de se evitar problemas de DFSS, como, por exemplo, uma alteração no projeto que reduza significativamente a probabilidade de um produto falhar durante seus primeiros cinco anos de operação?

Para responder essas perguntas, precisamos conhecer as melhores práticas. Um possível método seria estabelecer CTQs que, por si sós, identificassem tais fatores como falhas prematuras. Evidentemente, para que o Seis Sigma seja totalmente abrangente, precisamos desenvolver meios de identificar todas as economias e as prevenções de perdas, incluindo as de longo prazo - mesmo que essas economias não possam ser quantificadas imediatamente ou, nem mesmo, possam ser quantificadas com precisão pela área financeira.

14. Personalizar os Métodos de Acordo com as Necessidades da Empresa

Os conceitos básicos do Seis Sigma, como, por exemplo, um método de melhoria da qualidade altamente disciplinado e voltado para os dados, se aplicam diretamente a todas as operações; porém, algumas ferramentas específicas podem ter uma importância relativa, que pode variar de uma operação para outra e de uma empresa para outra.

É necessário que se reconheça essa realidade, realizando-se treinamentos apropriados quando o Seis Sigma for utilizado em outras funções além da área de manufatura. Por exemplo, o devido planejamento de investigações é sempre pertinente. Assim sendo, na maioria dos casos de desenvolvimento e fabricação de produtos, o projeto de experimentos (DOE) merece bastante atenção. Além disso, em casos de processamento químico, os experimentos de mistura (avaliação do impacto de ingredientes que necessitam chegar a 100%) também merecem ser considerados.

Em contraste, para as operações de marketing ou de prestação de serviços, poderíamos fornecer apenas um mínimo de treinamento em DOE, dando enfoque ao planejamento e à realização de pesquisas com clientes.

15. Considerar a Variação e a Média

Com o amadurecimento do Seis Sigma, tem havido um maior reconhecimento da importância de se reduzir a variação, além da tradicional meta de melhoria da média. A frase "A variação é o inimigo" se tornou um slogan do Seis Sigma. Uma típica aplicação seria reduzir a variação do tempo entre a efetivação de um pedido e a entrega do produto ou serviço.

Algumas pessoas chegam a afirmar que é a variação, e não a média, que mais afeta os clientes. Na minha opinião, essa é uma afirmação exagerada.

Por exemplo, os clientes costumam buscar produtos de longa vida útil. Nesse caso, um produto de vida curta não serve. Também não servem produtos que, às vezes, têm longa vida e, outras vezes, apresentam falhas prematuras. Nessa e em muitas outras aplicações, tanto a média como a variação são importantes e devem ser consideradas. Sua importância pode variar apenas de uma aplicação para outra.

Há alguns casos em que a variação é inerente, podendo apenas ser parcialmente eliminada. Treinando os funcionários para realizarem tarefas específicas, por exemplo, pode-se reduzir, mas não remover completamente, a variação, por meio da implantação ponderada de certas práticas e do treinamento direcionado. O desafio, então, é ajudar a garantir que o processo seja consistente ao máximo, a fim de se minimizar a variação restante.

16. Planejar-se para Obter os Dados Corretos

Eis um slogan do Seis Sigma: "Em Deus nós confiamos, os outros trazem dados". Infelizmente, os dados disponíveis, mesmo que sejam, muitas vezes, volumosos, são geralmente insuficientes para a tarefa que temos em mãos. Em geral, isso ocorre porque os dados foram obtidos por outras razões além da análise, como, por exemplo, para atender a requisitos contábeis. Na verdade, as informações mais relevantes nem mesmo poderiam ser registradas, pois os dados disponíveis poderiam ser incoerentes ou ambíguos.

Digamos, por exemplo, que você quisesse conhecer as causas-raízes das falhas que não foram eliminadas pelo DFSS. Provavelmente, haveria dados disponíveis apenas nas unidades que tivessem falhado no período de garantia, não havendo qualquer informação sobre as unidades que falharam fora desse período. 

Além disso, provavelmente haveria poucas informações sobre as unidades que não tivessem apresentado falhas. E, mesmo no caso das unidades em que houvesse dados sobre a falha, saberíamos apenas a data da falha, o custo para o fabricante e, talvez, uma descrição geral da falha.

As descrições detalhadas da falha poderiam ser feitas de acordo com a vontade das pessoas responsáveis pelos reparos, podendo, portanto, ser altamente incoerentes. Informações importantes sobre fatores como data e turno de produção, tempo ou número de ciclos de serviço, ambiente operacional, degradação da unidade e a causa específica da falha são freqüentemente esquecidos. Portanto, é geralmente necessário obter informações adicionais, mesmo que isso custe dinheiro e tome tempo.

Os dados disponíveis podem servir para ajudar a decidir quais das informações adicionais serão mais úteis. Nem sempre são necessários dados para cada unidade. Geralmente, uma amostra selecionada cuidadosamente é o suficiente. Isso ocorre porque é a qualidade, e não a quantidade, dos dados que conta.

Para se entender melhor as falhas de um refrigerador, por exemplo, geralmente seria mais útil usar uma amostra de 10.000 unidades e ter boas informações do que usar uma amostra de 1 milhão de unidades e ter dados incompletos e incoerentes.

Como geralmente há um atraso significativo entre o planejamento do sistema para coleta de dados e a obtenção dos dados, é importante que se estabeleça antecipadamente um bom sistema de coleta, em vez de esperar até que um problema torne isso necessário. Em alguns casos, pode-se também conseguir as informações necessárias através de um experimento bem elaborado.

17. Tomar Cuidado com o Dogmatismo

Tanto os conceitos como as ferramentas Seis Sigma têm se mostrado confiáveis e valiosos. Ambos podem ser aplicados com segurança, porém, algumas vezes, terão de ser adaptados de acordo com o problema em questão. Por exemplo, o conceito de 3,4 defeitos por milhão de oportunidades pode ser, às vezes, um tanto vago. E como você definiria "oportunidade"? Será que um deslocamento de exatamente 1,5 sigma na média, tornando algo de curto prazo em algo de longo prazo, realmente se aplica em qualquer situação?

Em vez de debater essas questões, seria melhor usar direto a porcentagem de defeitos no produto ou no processo final, conforme o critério definido. Além disso, não seria conveniente insistir no uso de ferramentas específicas do Seis Sigma.

O objetivo é conseguir uma significativa melhoria da qualidade - não usar o DOE, o R&R ou qualquer outro método só por usar. Essas ferramentas são muito eficientes e têm muita aplicabilidade, mas nem todas são igualmente apropriadas para qualquer situação, devendo ser usadas ponderadamente.

18. Evitar Burocracia Desnecessária

Uma das principais iniciativas da GE anterior ao Seis Sigma era o work-out. Sua finalidade era acabar com toda a burocracia e qualquer outra coisa que impedisse o progresso. Por esse motivo, Welch surpreendeu muitos funcionários quando disse para prosseguirem com a implantação do Seis Sigma mesmo que, em alguns momentos, isso resultasse em numa certa burocracia.

Na verdade, esse é o preço que se paga por um processo altamente disciplinado (como, por exemplo, o DMAIC e o estabelecimento de uma infra-estrutura). Contudo, isso tem resultado em algumas críticas, principalmente daqueles que se encontram "travados", provavelmente experimentando uma certa frustração com o trabalho adicional ou a demora resultante do Seis Sigma.

Além disso, a burocracia pode se assentar nela mesma. Deve-se vigiar para ter certeza de que apenas os elementos burocráticos mais essenciais sejam agregados, examinando-os cuidadosamente para que eles se mantenham no menor número possível. Conforme o Seis Sigma for se tornando a sua maneira de trabalhar, você poderá, até mesmo, acabar com a burocracia que restou.

19. Manter a Caixa de Ferramentas Básicas

Ferramentas estatísticas e outras compõem a espinha dorsal do Seis Sigma. Elas geralmente abrangem conceitos técnicos - tais como ênfase no sistema de medição (R&R), DOE, desdobramento da função qualidade - , que são importantes na prática, mas dificilmente encontrados nos currículos de cursos superiores.

O que tem ajudado a tornar o Seis Sigma um poderoso método são as ferramentas embutidas nos processos, que são imediatamente colocadas em uso. O Seis Sigma, portanto, é muito mais do que uma caixa de ferramentas. Com a experiência, tem-se descoberto que algumas ferramentas são mais importantes do que outras, e que algumas não incluídas originalmente merecem ser acrescentadas.

Alguns tópicos estatísticos não incluídos no treinamento original, mas que têm provado sua importância, são:

  • Manuseio de dados não normais;
  • Uso do DOE como um processo passo a passo;
  • Análise de simulações (principalmente para determinar o tamanho da amostra);
  • Quantificação das fontes individuais de variação;
  • Expressão da incerteza por meio de intervalos estatísticos em lugar de testes de hipótese (ou significância);
  • Análise de dados sobre a vida do produto usando-se métodos especiais;
  • Ferramentas para análise de amplos conjuntos de dados, tais como CART (classification and regression trees) e MARS (multivariate adaptive regression splines);
  • Métodos gráficos para complementar análises estatísticas formais.

20. Esperar que o Seis Sigma se Torne um Parceiro Mais Discreto

A implantação do Seis Sigma é geralmente acompanhada de muita festa. Logo em seguida, deve vir uma sólida evidência de aplicações eficientes que tenham resultado em importantes melhorias da qualidade. Os conceitos são, então, ampliados para desafios de melhoria maiores, de longo prazo, mais focados nos sistemas e mais voltados para o cliente.

Quando o Seis Sigma se tornar arraigado na organização e estiver sendo aplicado aos vendedores e clientes, ele provavelmente não será mais uma notícia de primeira página. Isso, porém, não deveria ser uma surpresa e, de forma alguma, indicaria que o Seis Sigma é menos relevante.

Para manter a força inicial do Seis Sigma, a empresa poderá fazer aplicações mais abrangentes, eficazes e contínuas. Além disso, à medida que o Seis Sigma se tornar verdadeiramente a sua forma de trabalhar, a organização deverá ir buscar e implementar as melhores práticas empresariais.


Onde o Seis Sigma é Utilizado

O Seis Sigma teve início em grandes corporações e tem sido aplicado, com muito sucesso, nessas empresas - talvez porque elas tenham os maiores recursos. Porém, ele pode se adaptar também às necessidades de empresas de pequeno e médio porte.

Além disso, sua conveniência não se limita ao mundo corporativo. Mais recentemente, ele vem sendo aplicado, por exemplo, à agricultura. O Seis Sigma também pode ser valioso para o setor público, incluindo o governo, hospitais, organizações sem fins lucrativos e escolas.

A aplicação do Seis Sigma nessas outras áreas representa uma nova fronteira, apresentando algumas importantes oportunidades e fascinantes desafios. Espero que os pontos aqui apresentados sirvam para dar impulso a muitas aplicações novas e diversas.

Texto traduzido por Marily Tavares Sales, do QSP.

 

Para obter mais informações sobre aplicações do Seis Sigma e sobre como o QSP poderá auxiliar sua empresa a implementá-lo de forma eficaz, favor contatar-nos através do e-mail: cursos@qsp.org.br, ou do telefone: (11) 3704-3200.